Quem me conhece ou acompanha este blog sabe, tenho certa preferência por qualquer outra forma de vida que não a humana, vide, inclusive, a passagem de Lord Byron que postei ao final do texto anterior a este.
Não quero dizer, com isso, que deixaria um ser humano de lado para salvar um ou outro animal ou vegetal, por exemplo, apenas tenho mais respeito a estes do que àqueles.
Mas o que assisti na terça-feira à noite me fez repensar tudo isso. Que coragem, que valentia, que audácia, que espírito de solidariedade e compaixão.
Eu, com meus 26 anos completados há poucos meses, não vi o homem pisar na lua; não vivenciei toda aquela expectativa, medo e, para muitos, desconfiança sobre a Apollo 13, que em 20 de julho de 1969, levou o homem a pisar em lugar extraterreno. Um feito que por muito tempo parecia impossível, mas que, mesmo que alavancado por questões/disputas de beleza e poder entre nações, mostrou-se viável, pleno e comprovador das possibilidades e capacidades do ser humano.
Eu não participei, não vivenciei tudo isso, apenas li e escutei.
Contudo, o que assisti na última terça e quarta-feira, com certeza, foi algo tão improvável quanto pisar na aula.
33 homens soterrados em uma mina, a mais de 600 metros de profundidade. Mais de 600 metros de profundidade, ou seja, mais de meio quilômetro em direção ao centro da Terra.
Por 68 dias, esses homens não viram a luz do sol, não sentiram o vento soprar em suas caras, nem a água da chuva escorrer em seus corpos. Devem ter sentido a solidão (ainda que em um grande grupo) e a inevitável incerteza quanto a sobrevivência; se é que um deles esperava, realmente, de maneira racional, que isso acontecesse, um salvamento de proporções inimagináveis. Inimaginável como pisar na lua.
E aconteceu.
A comoção que se viu no mundo inteiro quanto aos 32 chilenos e 1 boliviano presos a mais de 600 metros abaixo da superfície, era de se esperar. O mínimo que eu, ao menos, esperava; entretanto, para minha surpresa, foi-se mais longe.
Acreditou-se piamente na salvação daqueles mineiros, e com um esforço aparentemente sobre-humano não se mediu esforços e nem tempo para tentar salvá-los.
Além disso, a confiança estampada nos rostos de toda equipe que participou desse resgate histórico foi algo impressionante. A positividade que se via na cara do presidente chileno frente à Fênix II e o absurdo e profundo buraco por onde esta teria que viajar em várias idas e vindas...
Eu nunca mais vou esquecer do que assisti no dia 12 de outubro, quando se iniciou o resgate, e nos demais flashs que acompanhei nas horas de heroísmo que se seguiram.
33 homens presos 622 metros, mais de meio quilometro, abaixo da superfície do Planeta Terra, no território de um país humilde, de terceiro mundo, que por essas simples características não se mostrou menos glorioso, forte e digno do que uma nação de alto potencial econômico, cultural ou bélico.
Mas não posso perder muito o foco. A questão aqui é o homem e sua capacidade solidária. Fazemos guerras? Sim, fazemos. Destruímos o Planeta? Sim, a cada minuto. Mas na essência, temos compaixão, solidariedade? Sim. E se não temos, podemos criar, assumir isso.
Em meio a tantos fatos podres no mundo contemporâneo como os dois mencionadas acima, juntamente com a corrupção, a pobreza, entre outros, parece-me, ainda assim, que devo dar esse voto de confiança na espécie humana, pois o que vi nesta semana merece muito o meu respeito e a minha consideração.
Ok, Homem, eu ainda acredito em ti. Tive provas concretas de que tua ignorância e egoísmo podem ser mitigados, ainda que seja necessário chegar a condições extremas.
Tudo bem, eu ainda acredito em ti.
----- Ouvindo Dire Straits - Brothers in Arms --------
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