Foram dias Intocáveis, Invisíveis, Inatingíveis. Dias que conheci mais uma vez um lugar que me traz tranqüilidade, serenidade, harmonia espiritual, equilíbrio... Entre muitas outras coisas.
Dias em que me conjuguei com a natureza em sua forma mais raiz, dias em que o Tempo colocou as pessoas certas para compartilhar comigo o fim e o início de mais um período. A sincronia de não precisar de um telefone celular para entrar em contato e programar algo. A sincronia de entrar no mar acompanhado e deixar a corrente levar e afastar na hora em que sentia a necessidade de solidão/ concentração. A sincronia de entrar no mar sozinho, me sentindo um só, eu, o mar, o ar e a terra, e encontrar o amigo, lá dentro, no momento de solidão/medo.
Uma experiência de comer somente aquilo que a terra nos oferece sem tratamento degradante a ela mesmo ou infringindo a menor dor possível àqueles que sentem, sofrem e almejam.
Dias de reflexão, divertimento, tensão, alegria, limpeza, concentração.
Encontrei o samadhi em duas ocasiões, dentro d`água e fora dela. Na primeira, em um banho único e solitário impossível de descrever com a mesma perfeição; em um mar liso, com ondas livres e abertas, ainda que fracas. Um momento zen de concentração total, em que tive a impressão de que som algum atingia meus tímpanos, nem mesmo o canto viventes dos pássaros que por ali voavam. Três ondas solitárias, lá fora, e um amarelo escaldante as minhas costas enquanto eu observava o infinito do oceano.
Em um segundo momento, quando encontrei Ele, em mim, e ao meu redor. Em terra firme, sobre a areia fina e o capim verde que há anos lambem minhas pernas. De cima da duna novamente vi o azul do infinito e senti o amarelo do sol sob minhas costas, com a sensação de não estar sozinho naquele momento. Minutos após sentir a provação de Sua existência.
Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso
nenhum mal eu temerei;
Estais comigo com bastão e com o cajado;
Eles me dão a segurança!
Eu e Eu.
Estabeleci conexões de amizades sinceras e bases territoriais sólidas de todas as noites, no mesmo lugar, no mesmo horário. Conheci pessoas boas, especiais de palavras e beleza no olhar e no sentimento daqueles dias.
Fui questionado deveras pelas mudanças que em mim impus durante o ano que passou, expliquei-as e percebi o quanto é difícil para o ser humano compreender que não está só neste mundo entre outros fatos.
Calculei o tempo do vento, da chuva, mas nunca o do relógio. Entendi a necessidade de aceitar certas situações e que fechar o rosto para elas apenas me levaria ao desequilíbrio emocional que desconcerta durante um dia inteiro.
Estar em paz consigo mesmo e então entrar em sintonia com o mundo.
Soube do irmão que ao lado sorria e esbanjava fraternidade. Levaram-no ao chão, apedrejaram-no covardemente e então a cautela passou a fazer parte nas madrugadas estreladas e sem vento em que retornava para casa depois de noites boas, belas noites.
Ainda assim, o lugar aonde encontro minha paz, aonde me sinto em harmonia com o todo, eu, o universo e o Tempo.
Por vezes o descontentamento falou mais alto e junto o sentimento não de briga, mas sim de expor a alguns que os limites de um jogo fazem parte do próprio jogo. Energia pura na Terra do Nunca que muitos duvidam e logo não percebem a beleza presente em cada duna, em cada saída de rua obstaculizada pela areia, em cada quero-quero que nos impede a passagem, em cada uma de suas calçadas sem estrutura, nas guaritas vermelhas alinhadas numa costa reta, bela e imensa que parece não ter fim, no som que ecoa na manhã e na tarde daquele lugarejo do Infinito.
Agora, mais do que nunca, carrego estampado no peito o lugar aonde tudo acontece ao seu tempo, e tudo é belo, da mesma forma que acontece e é há quilômetros daqui. As diferenças são alguns morros, dias contínuos de ondas boas e vontade de perceber a beleza e harmonia existente em ambos os lugares, em ambos os cantos, em ambos confins de mundo, cada um na sua simplicidade natural.
Energia, ar, areia, água, harmonia, sincronia, tranqüilidade, Tempo, samadhi e magia, na Terra do Nunca. Na Terra do IN.