Estava aqui no meu quarto, tomando meu chimarrão, comendo uma bergamota poncã (e nem sei o modo correto de escrever), escutando um Engenheiros do Havaii, pensando na vida, quando então bateu aquela vontade de escrever.
Mas escrever sobre o que? Sempre acontece isso; durante o dia, na correria habitual de quem recém entrou no mercado de trabalho surgem vários assuntos em mente, mas depois tudo se mistura, vem a preguiça, e nada sai.
Então, olhei o link que um brotherzinho lá da praia, o Wagner, colocou no MSN. Um vídeo no youtube. Pensei ser algo alusivo ao Tricolor, mulher pelada, ou qualquer desses vídeos engraçados que circulam pela internet.
Nada disso. Tratava-se da gravação - caseira, diga-se desde já - do primeiro "ensaio oficial" da banda dele. Banda de que? Banda de Rock`n Roll, ora essa!
Na mesma hora chamei-o pra conversar: "- vem cá, meu. É tu ali na bateria?". Perguntei surpreso, pois nem sabia que ele andava se arriscando em algum instrumento musical; ao menos não lembrava dele ter comentado algo na última vez que nos falamos pessoalmente, no verão.
O cara toca numa banda agora; uma banda dessas que nem de garagem é, e sim formada e com suas atividades no quarto de um dos integrantes. Mas e daí! É uma banda, uma banda de rock`n roll, e na mesma hora pensei que, putz... eu também já tive a minha. Diversos amigos meus já tiveram ou ainda tem as suas. Ou melhor, pensei mais do que isso; qual cara um dia não teve sua banda!? Digam-me! E se não tiveram, ao menos pensaram muito em ter.
Todo cara que se preze um dia tem que ter a sua banda de rock`n roll. Tem que ao menos pegar um violão, encanar umas notas e sonhar com a banda.
Ali pelos anos de 1999, 2000, eu tive minha banda. Pra respeitar a cronologia das coisas, anos antes fomos (eu, meus pais, minha irmã) morar nas imediações da Azenha. Foi o lugar aonde conheci aqueles que até hoje considero meus primeiros amigos de fé. Lucas, Lúcio e Jonathan. Fora as várias histórias que protagonizei com esses caras, foi com o último que a minha nada promissora carreira musical começou.
O John (como o chamo até hoje) sempre foi muito ligado em música, no rock de verdade, pesado, até. Fã de bandas como Metallica, Sepultura, Led Zeppelin, ACDC, entre outras, sempre tocou violão, passando os dedos na guitarra logo em seguida. Ensaiava em casa, tinha uma banda com os colegas de colégio, e sempre me chamava pra ver o que eu achava, colocando pilha pra que eu entrasse na onda. Então, dei de mão no violão do meu pai e o John me deu umas aulas.
É verdade, não fui um aluno muito dedicado, e com o tempo ficou claro que eu não possuía o "dom" também, mas esses fatores não me impediram de enganar aqui e ali com algumas canções. E olha... Muitas zoações ouço até hoje, mas boas lembranças eu tenho das sinceras rodas de violão que fiz na praia ou em qualquer outro lugar que tivesse um violão. Era massa.
Bom. Certa feita, antes mesmo de ganhar minha Jeniffer de cor bronze, com o braço em madeira de aparência crua, produzida aqui mesmo no RS, eu e o John formamos Os Betiolos. Nossa banda de Rock.
Cara... Que momento; que época! Nossos ensaios e apresentações nunca atravessaram as fronteiras do prédio que morávamos, mas nossa criatividade e nosso entusiasmo iam longe... longe demais de qualquer capital, diria Humberto Gessinger. O mais curioso de tudo é que o nome da banda veio da lista telefônica, quando um dia, de forma aleatória, escolhemos o sobrenome de algum cidadão para batizar nossa banda.
Passávamos noites e noites, madrugadas a dentro, tocando, ensaiando, viajando e sonhando. Ah, e bebendo também, escondido dos pais do John, que dormiam no quarto ao lado. Sempre nas sextas-feiras ou nos sábados. De vez em quando o irmão dele pintava por ali, o Douglas, um pouco mais velho, fissurado em Beatles, piloto de avião comercial hoje em dia.
Bons tempos aqueles. Dos nossos dedos passando pelas cordas de violões Tonante e Gianini, das nossas guitarras, da nossa bateria improvisada com latas de Nescau, saia Oasis, Nirvana, Engenheiros do Havaii, alguns Bob`s, só pra descontrair, mais uns Paralamas e tantos outros sons que não lembro, assim como canções nossas também. Tudo isso chegou a ser gravado em algumas fitas K7, as quais com certeza não existem mais.
Pra mim, não há dúvida, a música é uma das manifestações mais criativas e saudáveis que existe. O som está em tudo, até mesmo no silêncio, e o silêncio está no som. O sons naturais deram causa aos sons artificiais, feitos pelas mãos dos homens, através de máquinas/instrumentos como baterias, violões, guitarras, baixos, flautas, trompetes, harpas. Vieram as canções, que embalam as nossas vidas, nossos sonhos
Uma banda preferida, a música que mais gostamos, ou então, uma música própria, uma banda própria.
Todo cara, todo guri que se preze, um dia teve ou pensou em ter sua banda.
Os Betiolos ficaram na lembrança, guardados na memória ou dentro de alguma das latas que usávamos na "bateria"; o John, já advogado, dá uns sinais volta e meia, normalmente quando eu custo a dar sinal de vida. Já a minha guitarra, presente do meu pai lá por 1999, 2000, com a qual formei uma banda com um grande e eterno amigo, continua aqui, do meu lado, no meu quarto, emitindo sons no mais tranquilo silêncio daquelas canções que sempre permanecerão na minha mente.
" A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes".