Faz tempo que penso em escrever sobre os pais, mais especificamente sobre a origem desse instinto tão protetor, de zelo e segurança que os pais oferecem aos filhos.
Não seria uma tarefa fácil, visto que, aos meus 25 anos, sou apenas filho, irmão e tio, considerando minhas ligações parentais mais próximas e queridas. Não sou pai ainda, e no momento nem tenho pressa para isso.
Mas entre pais, mães e filhos, hoje fui surpreendido pelo meu velho.
Meu velho pai.
Um cara rude e querido ao mesmo tempo. Orgulhoso com seus pensamentos e filosofias de vida. Para o meu pai, o trabalho é algo tão sagrado quanto um beijo no filho antes de dormir. Para o meu pai... As mulheres devem sim ter uma certa independência dos seus maridos, mas apenas as nascidas a partir deste século; talvez a internet tenha iluminado um pouco mais a cabeça dele. Meu pai descobriu o Google há poucos meses e, desde então, a internete, que ele sempre vira como o mal maior da humanidade, passou a ser a mãe da ferramenta mais útil já inventada pelo homo sapiens: o Google.
Um cara meio grosso, assim, nascido na fronteira oeste, mas também de um grande coração, capaz de acolher todos os filhos de forma igual, capaz de lembrar das balas e doces para cada um de seus cinco netos, capaz de se abrir para sua esposa mesmo não concordando com as correções por ela impostas..
Meu pai, uma grande pessoa, junto com minha mãe a base de toda minha conduta social.`Por vezes peca em alguns detalhes, mas irrelevnates pra desmerecê-lo como pai..
Meu pai, um gaúcho da fronteira, trabalhador e um dos maiores assadores de carne que já vi.
Há pouco mais de seis meses, quando decidi excluir a carne e outros derivados de animais da minha alimentação, logo pensei:: como ele vai receber isso? Como meu pai, assador nato, cozinheiro de mão cheia nos mais vairiados pratos (a maioria com carne) vai receber essa minha decisão?
Por mais incrível que pareça, a resistência não foi tão grande; não que ele tenha compreendido e aceitado de imediato, mas pelo menos não me olhou torto como eu imaginei que olharia.
Contudo, nas últimaas semanas, muito ele vem me falando sobre uma certa necessidade que temos de comer carne ao menos uma ou duas vezes por semana. Coisa dele, isso; deve ter achado no Google algum artigo desses nutricionistas medrosos que relutam em admitir que o animal humano pode sim manter sua saúde e sua estrutura física sem carne e outros derivados dos demais seres vivos sencientes.
Uma luta contra o mercado, mas isso é assunto para outra hora.
Pois bem, então quando chego para o almoço de hoje, eis que meu pai apresenta seu clássico estrogonofe, de tom avermelhado, na verdade um tom mais rôse, acompanhado do clássico arroz branco, bem branco, e batata palha. Sim, ele apresentou seu clássico estrogonofe, de carne, mas também, para minha surpresa, um estrogonoffe especial.
Meu pai, gaúcho da fronteira, peleador, carnívoro nato, fez um estrogonofe de legumes, com cenoura, tomate e vagem.
Pasmem, um espetáculo. E não digo isso para o sabor do prato, que ficou muito bom, mas sim para este fato marcante.
Um pai é capaz de fazer tudo pelo seu filho. Tudo mesmo. Muito se vê de pais (no gênero) que dão a vida pelos seus filhos, que tiram pedaço do próprio rim para doar ao filho. Um pai é capaz de tudo; pai, na verdade, parece ser um sentimento difícil de explicar, que apenas quando atingirmos este status saberemos o que é.
Meu pai, incansavelmente, lutou três finais de semana para me ensinar a andar de bicicleta. Eu era gordinho, sabem como é, torna a tarefa mais difícl. Meu pai, certa feita, arrancou-me dos braços de dois policiais que, provavelmente, me dariam uma tunda quando eu os ofendi na entrada de um jogo da Libertadores. Meu pai um dia me presenteou com uma prancha nova, escolhida por ele, mesmo sem entender nada sobre o equipamento.
Já fez de tudo por mim, mas confesso nunca ter pensado um dia ele se propor a fazer um dos seus melhores pratos com carne, sem carne.
Um pai é capaz de tudo pelo seu filho, o meu fez um estrogonofe sem carne e, assim, admiro cada vez mais a condição de ser pai, sem saber até que ponto isso pode chegar, mas sem muito pressa de descobrir na prática.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Que angústia
Estava aqui olhando a foto do mar de hoje em Tramandaí. Vento terral, mar azul, e boas ondas, baixas, mas boas ondas.
Que saudade.
Sempre que fico muito tempo sem ir para a praia, fico assim... meio down. Olhando pela internet as condições do mar, num misto de alegria e tristeza. Alegria, por poder, ao menos, ver as fotos do lugar que pra mim, vale mais que qualquer outra coisa; tristeza, por estar apenas olhando e não sentindo aquela brisa de terral (ou até mesmo nordeste) na cara... por não estar dropando aquela onda azul da foto ou, até mesmo, as ondas esburacadas da minha praia. Talvez tristeza não seja a palavra certa para definir o que sinto nessas horas.
Angústia. Sim, angústia é a palavra certa. Não recordo com exatidão quando comecei a sentir essas coisas, mas com certeza foi a partir do ano que comecei a surfar fora da época de veraneio. Isso foi por meados de 2006 ou 2007. Cada ano foi diferente do outro, desde então... Num fui bastante, no outro não, mas desde então.... cada vez que completo três semanas direto na cidade, sem sentir o sal da água do mar, sem sentir a maresia, fico meio p`ra baixo... meio burro também, lá sei eu, modo de dizer.
Hoje pela manhã recebi uma mensagem pelo celular. Na verdade, quase todas as manhãs recebo uma mensagem pelo celular: é a minha namorada dando bom dia e dizendo tantas outras coisas que gosto de ouvir (ler). Mas hoje foi diferente, a mensagem não era dela, e sim de um irmão, desses que eu costumo chamar de "irmão d`água".
Dizia assim: "- Tô mal! Preciso de sal!".
E para meio entendedor, uma palavra basta - porque é impossível dividir essa palavra em metades-: SAL.
Sal é o termo que eu e esse irmão utilizamos para definir todo o momento mágico de uma sessão de surfe. Às vezes, o que queremos não é apenas pegar uma ou duas ondas, passar o final de semana tentando acertar algo na onda; querer sal é... relaxar, esquecer os problemas da vida um pouco, fugir de toda essa correria da cidade grande, deixar de lado os compromissos profissionais, acadêmicos, as coisas de família, e tantas outras coisas. Querer sal é simplesmente querer "salgar o rabo" dentro do mar, literalmente.
Sal é.... Bom, acho que vocês já entenderam. Sal, da água salgada, da água do mar. E é do mar que sinto falta em vários momentos dessa correria do dia-a-dia. Obrigações - suor - cansaço - relaxar - banho - água - água do mar - sal - com s - s de - surfar.
Tô com saudade do mar, daquele vento na cara, de afundar o pé na areia, de voltar pra casa pensando na onda que peguei ou na que não peguei. Falar com o brother na saída do banho; combinar o próximo, nem que seja p`ra dali duas ou três semanas.
É uma angústia tremenda, ficar aqui lembrando do último final de semana que estive por lá, dos últimos mares bons que peguei, da minha casa na praia, ficar pensando se as sementes que plantei no último domingo que estive por lá vingaram ou não. Que angústia. Até da grama alta pedindo p`ra ser aparada sinto falta.
Que angústia.
Ver a prancha na parede então... Putz, é torturante. Sabe, é como olhar um cachorro sentado na cadeira de uma sala de reuniões; o lugar dele não é ali. O lugar da prancha também não ali, na parede seca, esperando pelo próximo banho. Às vezes tenho a impressão que ela até fala comigo: "- Renatito, meu rei, quero sal!!!!!". Isso sem falar do neoprene ali parado, durinho, seco; chega a dar dó.
Oh vida... Cada um com seus gostos, com suas fantasias, com suas paixões, com suas angústias, com seus empecilhos para ser um pouco mais feliz. Para poder estar o máximo de tempo possível dentro d`água.
A cada final de semana, esperando os próximos que virão.
(Para escutar: Wrong Turn - Jack Johnson)
Que saudade.
Sempre que fico muito tempo sem ir para a praia, fico assim... meio down. Olhando pela internet as condições do mar, num misto de alegria e tristeza. Alegria, por poder, ao menos, ver as fotos do lugar que pra mim, vale mais que qualquer outra coisa; tristeza, por estar apenas olhando e não sentindo aquela brisa de terral (ou até mesmo nordeste) na cara... por não estar dropando aquela onda azul da foto ou, até mesmo, as ondas esburacadas da minha praia. Talvez tristeza não seja a palavra certa para definir o que sinto nessas horas.
Angústia. Sim, angústia é a palavra certa. Não recordo com exatidão quando comecei a sentir essas coisas, mas com certeza foi a partir do ano que comecei a surfar fora da época de veraneio. Isso foi por meados de 2006 ou 2007. Cada ano foi diferente do outro, desde então... Num fui bastante, no outro não, mas desde então.... cada vez que completo três semanas direto na cidade, sem sentir o sal da água do mar, sem sentir a maresia, fico meio p`ra baixo... meio burro também, lá sei eu, modo de dizer.
Hoje pela manhã recebi uma mensagem pelo celular. Na verdade, quase todas as manhãs recebo uma mensagem pelo celular: é a minha namorada dando bom dia e dizendo tantas outras coisas que gosto de ouvir (ler). Mas hoje foi diferente, a mensagem não era dela, e sim de um irmão, desses que eu costumo chamar de "irmão d`água".
Dizia assim: "- Tô mal! Preciso de sal!".
E para meio entendedor, uma palavra basta - porque é impossível dividir essa palavra em metades-: SAL.
Sal é o termo que eu e esse irmão utilizamos para definir todo o momento mágico de uma sessão de surfe. Às vezes, o que queremos não é apenas pegar uma ou duas ondas, passar o final de semana tentando acertar algo na onda; querer sal é... relaxar, esquecer os problemas da vida um pouco, fugir de toda essa correria da cidade grande, deixar de lado os compromissos profissionais, acadêmicos, as coisas de família, e tantas outras coisas. Querer sal é simplesmente querer "salgar o rabo" dentro do mar, literalmente.
Sal é.... Bom, acho que vocês já entenderam. Sal, da água salgada, da água do mar. E é do mar que sinto falta em vários momentos dessa correria do dia-a-dia. Obrigações - suor - cansaço - relaxar - banho - água - água do mar - sal - com s - s de - surfar.
Tô com saudade do mar, daquele vento na cara, de afundar o pé na areia, de voltar pra casa pensando na onda que peguei ou na que não peguei. Falar com o brother na saída do banho; combinar o próximo, nem que seja p`ra dali duas ou três semanas.
É uma angústia tremenda, ficar aqui lembrando do último final de semana que estive por lá, dos últimos mares bons que peguei, da minha casa na praia, ficar pensando se as sementes que plantei no último domingo que estive por lá vingaram ou não. Que angústia. Até da grama alta pedindo p`ra ser aparada sinto falta.
Que angústia.
Ver a prancha na parede então... Putz, é torturante. Sabe, é como olhar um cachorro sentado na cadeira de uma sala de reuniões; o lugar dele não é ali. O lugar da prancha também não ali, na parede seca, esperando pelo próximo banho. Às vezes tenho a impressão que ela até fala comigo: "- Renatito, meu rei, quero sal!!!!!". Isso sem falar do neoprene ali parado, durinho, seco; chega a dar dó.
Oh vida... Cada um com seus gostos, com suas fantasias, com suas paixões, com suas angústias, com seus empecilhos para ser um pouco mais feliz. Para poder estar o máximo de tempo possível dentro d`água.
A cada final de semana, esperando os próximos que virão.
(Para escutar: Wrong Turn - Jack Johnson)
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